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quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Pressa sem resultado

Enquanto de um lado os motoristas são cobrados no horário e prazo para entregarem as cargas, por outro perdem muito tempo nas demoradas filas para carregar ou descarregar, isso sem considerar que em muitos lugares onde
aguardam não contam nenhuma infra-estrutura para atendê-los

Evilazio de Oliveira




Numa época em que o transporte rodoviário de cargas se aprimora na busca de mais eficiência e profissionalismo, ainda há um enorme descompasso entre a exigência do cumprimento nos prazos de viagem e a inevitável demora para que a mercadoria seja descarregada no destino final. Isso, sem contar os freqüentes erros no lançamento de notas, que "não fecham" com os produtos transportados ou de intermináveis esperas nos postos fiscais ou nas aduanas de fronteira. A maioria das grandes empresas transportadoras utiliza eficientes sistemas de logística para manter seus veículos sempre rodando, com o mínimo de desperdício de tempo, de maneira a garantir a pontualidade das entregas ao mesmo tempo em que mantém seus motoristas em atividade, dentro de um esquema pré-estabelecido para o tempo de direção, descanso e os horários para carregar e descarregar o caminhão.


Nelton César opera no transporte internacional e admite que se fizer as contas permanece mais tempo parado do que rodando com seu caminhão

Todavia, como o uso de técnicas modernas de logística ainda são incipientes no Brasil, ficando restritas às grandes empresas, mais bem estruturadas e capazes de fazer os investimentos necessários é de se esperar que as pequenas empresas e transportadores autônomos ainda sofram as conseqüências de um planejamento eficaz que envolva a melhor utilização da frota, rotas mais inteligentes e redução no tempo de entrega e coletas das cargas.

Para o motorista autônomo ou comissionado, a perda de tempo - sobretudo no início e no final de cada viagem - significa prejuízo certo, pois além de não estar rodando ainda é preciso bancar as despesas de alimentação, que em muitos casos persiste por vários dias, segundo avaliação de Nelton César Leal Corrêa, 40 anos, quatro de volante e dono de uma carreta. Natural de Caibaté/RS, ele opera preferencialmente no transporte internacional por considerar que dá para ganhar um pouco mais no frete. Acredita que, se fizer as contas, passa mais tempo parado do que rodando, sempre à espera de carga, da liberação de notas na aduana e para descarregar. "Em Buenos Aires é um terror", afirma. "A gente encosta o caminhão de manhã e eles só vão descarregar no final da tarde e isso quando estiverem dispostos", lembra. Na opinião de Nelton Corrêa, falta boa vontade e planejamento por parte das empresas, que dão prazo para a carga chegar ao destino e depois é preciso ficar na fila para descarregar. "Falta planejamento", acentua.


Entre as esperas para carregar e descarregar, liberação de notas e problemas burocáticos, Clair Rehbein admite que permanece cerca de 10 dias parado todo mês

Clair Rehbein Lencina, gaúcho de Itaqui, 25 anos e quatro de estrada, dirige uma carrreta entre Porto Alegre e Buenos Aires/AR. Segundo ele, fica parado pelo menos 10 dias do mês procurando carga e depois espera para carregar, descarregar, liberar notas e uma série de problemas burocráticos que só atrapalham a vida do carreteiro. Ele conta que nesses períodos em que fica parado, o motorista perde em tudo, porque a despesa continua a mesma. E, se tiver acompanhante, ainda há a falta de um local adequado para ficar com instalações sanitárias, banho e alimentação. Além da falta de planejamento por parte das empresas, que não respeitam os motoristas submetendo-os a longas esperas, ainda há a falta de respeito pelas famílias. Segundo ele, deveriam ao menos providenciar um local adequado e confortável para a acompanhante ficar até a carga ser liberada.


Na opinião de Antônio Augusto da Silva, se houvesse mais comunicação entre as transportadoras a situação seria melhor e haveria menos esperas

O carreteiro Antônio Augusto da Silva dos Santos, 37 anos e 15 de profissão, viaja "para onde tiver carga", afirma. Percorre estradas do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Goiás, Espírito Santo e Chile. Ele não tem carga definida, mas conta com as transportadoras onde é conhecido. Chega ao local e liga para saber se tem carga. "Às vezes é preciso esperar uns dois ou três dias para carregar, mas isso é normal", explica. Também concorda com a falta de comunicação entre as transportadoras, pois ao carregar o destinatário já deve saber que eu vou chegar no dia e na hora tal, e ficar preparado para receber a mercadoria. "A gente toca direto para cumprir o prazo, e os 'caras' nem dão bola, vão descarregar a hora que quiserem".


Fernando Cardoso chegou a ficar parado durante 20 dias por problemas com documentação da carga e sem dinheiro para se manter

Fernando Cardoso, 24 anos e cinco de boléia, de Cerro Largo/RS, trabalha como empregado dirigindo uma carreta, entre São Paulo, Argentina e Chile. Segundo ele, em cada viagem perde outra em tempo e em despesas por causa das esperas. Já aconteceu de ficar 20 dias em Foz do Iguaçu/PR por problemas com a documentação do importador. Ficou totalmente sem dinheiro e precisou recorrer à empresa, em tom duro, que se não enviassem recursos logo ele abandonaria o caminhão. Lembra que - em princípio - as empresas que atuam no transporte internacional deveriam dar uma diária de U$ 250,00, mas isso dificilmente acontece. Os valores acabam sendo negociados e o motorista acaba recebendo o que lhe é oferecido. "Melhor do que nada, né?". Afinal, Fernando Cardoso já está acostumado com a essa situação: pressa na estrada e depois horas ou dias de espera, tudo por conta da burocracia e falta de planejamento.


O gaúcho Nery Hohler garante que viaja por todo o Brasil e países da América do Sul e não enfrenta problemas com perda de tempo para carga ou descarga

A situação é diferente para Nery Kohler, 53 anos e 35 de estrada, que trabalha para DC Transportadora Rodoviária Nacional Ltda., de Foz do Iguaçu/PR. Ele mora em São Miguel do Iguaçu, a 35 quilômetros da sede da empresa e apesar de viajar pelo território nacional, Paraguai e Argentina transportando todos os tipos de cargas, garante que não tem problemas com a perda de tempo em esperas para coleta ou entrega das mercadorias. O máximo que pode acontecer é marcar o dia e a hora para encostar o caminhão em determinado depósito da empresa. Tudo é programado e o motorista só precisa seguir as orientações para que tudo funcione direito. Nery tem salário fixo e uma ajuda de custo para as despesas de viagem e, sabendo controlar, sobra um pouco mais no fim do mês, conforme explica. Para isso ele tem lugares certos para abastecer, onde pode ganhar uma lavagem grátis e o vale-refeição. Tudo ajuda, diz. Reconhece, no entanto, que só as grandes empresas dispõem de armazéns próprios para carga e descarga e que, a maioria dos carreteiros ainda precisa se submeter a longas esperas, tudo por falta de um bom planejamento de viagem. "Ou dessa tal logística, como dizem".

Fonte: www.revistaocarreteiro.com.br
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