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quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Trens do asfalto

Com peso bruto total superior a 170 toneladas, os trens das estradas compõem a paisagem do trafego de veículos pesados nas rodovias australianas. A topografia plana do país possibilita a combinação de grandes composições que podem ter de 26 a 53,5 metros de comprimento e chegam a transportar 100 toneladas de carga útil

Texto e fotos: João Geraldo



Quando se pensa na Austrália, a primeira coisa que normalmente vem à mente é a imagem do canguru. Mas se o assunto é o transporte rodoviário de carga, a figura de destaque é o road-train, veículo rodoviário de grande porte tracionado por robustos e potentes cavalos-mecânicos. Isso porque, apesar deste tipo de composição existir também em menor quantidade nos Estados Unidos e Canadá, é nas estradas do país dos cangurus, coalas, crocodilos, morcegos gigantes e outros bichos estranhos que os trens do asfalto ganharam notoriedade.

A Austrália tem extensão territorial de 7.682.300 km2 e cerca de 22 milhões de habitantes. Sua economia é formada por produtos agrícolas tais como trigo, cana-de-açúcar, algodão em pluma, uva etc; e na pecuária conta com rebanhos bovinos, suínos, ovinos e aves, além da mineração de carvão, minério de ferro, chumbo, cobre, ouro, prata, petróleo, gás natural e bauxita. A indústria se divide em alimentícia, bebidas, tabaco, máquinas e equipamentos, extração de petróleo, carvão, química, madeireira, papel, gráfica e editorial.

O território Australiano é uma grande ilha formada por sete Estados independentes, nos quais os grandes e principais centros urbanos estão localizados próximos ao litoral, enquanto a região central do país - conhecida como outback (fora da costa) - plana e desértica, concentra grandes rotas rodoviárias percorridas por road-trains. As grandes composições são utilizadas para o transporte de todo tipo de carga e podem medir, de acordo com a legislação local, de 26 a 53,5 metros de comprimento, de pára-choque a pára-choque, e chegar até 175 toneladas de PBTC. Também devem ostentar na dianteira e na traseira a placa "ROAD TRAIN", em letras pretas sobre fundo amarelo como forma de sinalização.

Para carregar tanto peso em velocidade média de cruzeiro em torno de 100 km/hora, os road-trains são tracionados por caminhões de alta potência, geralmente acima de 500cv. Nesta aplicação a Volvo se destaca com um modelo que ganhou a preferência dos transportadores do país. Trata-se do FH16, unidade com motor Euro 4 de 16 litros e 660cv de potência e também um dos caminhões mais potentes do mundo. E o modelo se destaca mesmo concorrendo em um segmento onde os caminhões com características norte-americanas têm presença marcante no mercado.

Por ter cabine avançada, o modelo sueco possibilita ganho de espaço na combinação de semi-reboques embora essa questão pareça não ser tão relevante para os transportadores, que de uma forma ou de outra têm de atender a legislação local de comprimento de veículo. O ponto forte do Volvo FH16 660 é a alta performance na operação, conforme declaram os transportadores que o utilizam. Antes, cabe acrescentar que a Volvo Trucks Austrália monta também os caminhões Mack (marca que pertence ao grupo Volvo desde 1999), sendo que estes são veículos com capô sobre o motor atendendo, portanto, os padrões do mercado dos Estados Unidos, que aliás, também é comum no território australiano.


Composições de grande porte são comuns nas estradas australianas, onde também se tem preferência por caminhões com cabine convencional

Um desses transportadores que utiliza o modelo é a Giacci Bros Pity, localizada no Western Austrália, a Austrália Ocidental, o maior entre os seis Estados australianos, cuja população estimada em 2.131.000 habitantes representa cerca de 10% da população do país. A frota da Giacci é formada por mais de 100 caminhões, dos quais 90% são da marca Volvo e 2% Mack. As principais operações da empresa exigem veículos com caçambas basculantes para o transporte a granel de minérios e areia, em rotas que abrangem um raio de 400 quilômetros com road-trains de 92 a 175 toneladas de PBTC.

Uma das atividades da empresa envolve o transporte de minério da mina Oxiana, localizada no deserto - um lugar perto do nada chamado Golden Grove - há cerca de 300 quilômetros de Geralton, uma cidade litorânea ao norte de Perth, a capital do Estado. Para este tipo de operação a empresa utiliza composições com 13 caçambas para carga e 23 eixos sob um road-train de 53,5 metros e 175 toneladas de PBTC, sendo 100 toneladas só da carga.



Tristan Freemanton, coordenador de carregamento da mina, onde trabalham 500 pessoas, explica que os caminhões rodam 24 horas sem parar e acrescenta que são veículos de alta potência que não podem falhar. Diariamente saem da mina 12 composições carregadas de minério em direção ao porto. Kevin Kane, um típico carreteiro australiano com 63 anos de idade (no país muitos motoristas dirigem vestidos de bermuda curta e calçados de botina), acha divertido dirigir um caminhão tão grande e nunca ter se envolvido em acidente rodoviário. Motorista de caminhão desde os 20 anos de idade - e há 14 na transportadora Giocci - ele recebe salário de 1.300 dólares australianos a cada seis dias de trabalho. Bem humorado e do tipo "ligeirinho", ele faz revezamento no horário de trabalho: um dia ele chega à mina de madrugada para carregar e no outro 11 horas da manhã. Um detalhe: ele conta que mata - em média - dois cangurus por dia no seu trajeto e - por mais incrível que possa parecer - trata-se de um fato normal para motoristas que dirigem à noite ou de madrugada.


Fonte: www.revistaocarreteiro.com.br
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